CAIS DO GÁS

peça sonora / sound piece
2014 | Pelo Som de Lisboa / Lisbon by Sound


http://lisbonbysound.alkantarafestival.pt/en/
"Em Lisbon by Sound (Pelo Som de Lisboa), 
Tim Etchells convida quatro artistas
 lisboetas para um projecto áudio 
online sobre a sua cidade. 
Cada um deles – o duo de dança e performance Sofia Dias e Vítor Roriz, a coreógrafa Vera Mantero, a escritora e performer Patrícia Portela e Rui ‘Riot’ Pité (dos Buraka Som Sistema) – cria um trabalho de som de 5 a 10 minutos relacionado com um local específico à sua escolha, em Lisboa. Estas obras respondem à cidade e fazem perguntas sobre o modo como os espaços online e os espaços do mundo real podem interagir. As peças podem ser descarregadas e ouvidas in situ em cada localização específica.

 Paralelamente à encomenda destas peças sonoras, serão realizados
e publicados online quatro vídeos, cada um deles um diálogo 
entre o respectivo artista e Tim Etchells, uma espécie
de continuação ou extensão da peça sonora 
através da reflexão e da discussão." 

ENG | "In Lisbon by Sound Tim Etchells 
invites four Lisbon artists to create
 an online audio project about 
their city. Dance and performance duo Sofia Dias and Vítor Roriz, choreographer Vera Mantero, writer and performance maker Patrícia Portela, and Rui ‘Riot’ Pité (of Buraka Som Sistema) each create a 5 – 10 minutes sound work relating to a specific location of their choosing, somewhere in Lisbon. These works respond to the city and ask questions about how online and real world spaces can interact. The pieces will be available to download and listened to in situ at each particular location.

 Alongside the commissioned sound works, four short films will be published online. Each film is a dialogue between the artist and Tim Etchells, a continuation or extension of the sound piece through reflection and discussion."


Curadoria de / Curated by_Tim Etchells e/and Alkantara | Com projectos de / With projects by_Sofia Dias e Vítor Roriz, Vera Mantero, Patrícia Portela, Rui ‘Riot’ Pité | Encomenda / Comissioned by_British Council.

 
“...e se nomearmos o que vemos para vermos o que nomeamos quando vemos.”
“…what if we name what we see to see what we name what we see…”



















Quando passeávamos pela cidade à procura de lugares que tivessem uma identidade sonora, fomos directamente à ponte 25 de Abril por nos parecer o sítio mais evidente. Consoante o vento, o som da ponte alastra-se a diferentes áreas da cidade, é um género de ruído branco sobre o qual todos os outros sons estão em suspensão. Debaixo da ponte a sua intensidade é avassaladora, cada carro produz uma certa frequência e a sua acumulação resulta numa composição densa e irregular que nos faz vibrar a cada inflexão e modulação de tom. Depois da ponte, continuámos à procura de outros locais, mas queríamos continuar a ouvi-la ao longe e mantê-la no horizonte.

Em conversas com amigos, perguntámos que outros sons da cidade lhes tinham chamado a atenção e a Maria falou-nos do som das plataformas dos barcos no cais do Sodré. Foi assim que chegámos ao cais do Gás. Este lugar tem uma identidade sonora muito forte e dali vêem-se a ponte, a cidade, as pessoas a chegar e a entrar para os barcos, os pescadores, pessoas perdidas e todas as oposições próprias de um espaço público que é simultaneamente de passagem, pausa, trabalho e que contém no presente, indícios que nos ligam aos seus vários passados e possíveis futuros.

Foi a partir desta ideia de simultaneidade que nos aproximámos do cais e criámos esta experiência sonora. Procurámos a simplicidade do diálogo de quem descreve o que observa e ouve e, ao mesmo tempo, dá a ver e a ouvir. A nomeação dos elementos da paisagem surge como uma forma de nos aproximarmos do lugar. Como se ao nomearmos o que vemos pudéssemos atribuir uma intensidade diferente às coisas, destacá-las da paisagem e organizá-las numa sucessão de relações inusitadas. E assim oferecer aos olhos um percurso, uma coreografia do olhar a ser continuada pelo ouvinte. Nesse movimento de aproximação ao espaço esconde-se a alienação que a escuta através dos auscultadores provoca. Essa tensão, entre o recolhimento da escuta, a percepção do espaço e do próprio corpo do ouvinte foi algo que percebemos como específico deste processo.

Formalmente, procuramos articular todas estas ideias numa atmosfera musical, um pouco absurda e estranha, dando continuidade à nossa pesquisa sobre a voz, a palavra e o som. Inicialmente o nosso plano era criar uma versão em Inglês e outra em Português que fossem próximas, quase a tradução uma da outra, mas as especificidades de cada língua levaram-nos a duas peças diferentes. Mantém-se a estrutura e a ideia geral, mas há diferenças significativas na ambiência e na forma como envolvemos a voz, o que poderá resultar em duas experiências distintas para o ouvinte.

Esta peça pode ser ouvida em casa, ou noutro espaço, mas faz muito mais sentido no cais do gás onde as referências visuais podem ampliar a experiência da escuta. Se se estiver de frente para o Rio Tejo, o Cais do Gás fica do lado direito da estação fluvial do Cais do Sodré. O local exacto para começar a ouvir esta experiência é sentado no muro de betão, perto das escadas, que se vê na fotografia em baixo, depois, basta seguir aquilo que se ouve.

Para ouvir basta descarregar do website para um mp3 ou telefone e ir até ao local se estiver em Lisboa.




ENG | At first, our plan was to create an English version and a Portuguese version that would almost be the translation of each other, but the specificities of each language led us to create two different pieces. The structure and general idea remains, but there are significant differences in the atmosphere and in the way we engage our voices, which can result in two different experiences for the listener.

This sound piece can be listened to at home or in another space, but it makes much more sense if listened to in the gas pier (cais do gás), where the visual references may amplify the hearing experience. If you're facing the river (rio Tejo), the gas pier is on the right side of the fluvial station of Cais do Sodré. The exact spot to start listening to this sound piece is seated in the wall, next to the stairs, that's on the right side of the photo below, then, you just need to follow what you hear.

To listen, you just need to download it to your mp3 or mobile phone and go to the spot if you're in Lisbon.





. ouvir com auscultadores . . to be listened to with headphones .


  
Criação / Creation_ Sofia Dias & Vítor Roriz | Masterização sonora e apoio técnico / Masterization and technical support_ Tiago Cerqueira | Colaboração (ouvido externo) / Collaboration (external ear)_ Maria Ramos, Filipe Pereira e Tiago Cerqueira | Agradecimentos / With thanks to_ Centro Juvenil de Montemor-o-Novo e O Espaço do Tempo.